22/10/2021 às 14h33min - Atualizada em 23/10/2021 às 00h00min

Como a reabilitação de ex-soldados de guerra deu um salto e culminou na formação de atletas de alto nível

(*) Hugo Henrique Amorim Batista e (*) Luciane Godoi

SALA DA NOTÍCIA Danieli Crevelaro

Freepik

A notícia de uma gravidez traz consigo, inevitavelmente, a criação de expectativas sobre a criança. Mas muitos não param para pensar que o pequeno ser humano pode vir a trazer uma necessidade especial. E a verdade é que quando analisamos uma situação diferente, normalmente ela torna-se um tanto quanto incômoda. Então a possibilidade de uma criança deficiente, num primeiro contato, pode ser uma situação assustadora, porém com o passar do tempo as dificuldades vão sendo superadas e novas oportunidades passam a surgir. A esperança da superação passa a caminhar de mãos dadas com a resiliência e o desconhecido, deixando o susto para trás e abrindo portas para um novo mundo.

O mesmo vale para quem acaba passando por situações e acidentes imprevisíveis e tem a vida transformada. Um outro mundo de possibilidades surge à frente. Quem primeiro viu isso foi o neurologista alemão Ludwig Guttmann. De origem judia e exilado pelo governo nazista, ele mudou-se para a Inglaterra para chefiar o Centro Nacional de Traumatismo. Seu principal objetivo ali era atuar na linha de frente junto aos ex-soldados da Segunda Grande Guerra, regando a reabilitação motora e psicológica deles.

Quando o neurologista começou a atuar com pessoas mutiladas que passaram pelos mais diversos traumas de guerras, ele aplicou esforços na criação de uma linha de treinamento, com foco na natureza competitiva de seus pacientes. Isso fez de Guttmann um dos pioneiros no uso do esporte para reabilitação física de pessoas portadoras de deficiência e seus métodos logo fizeram sucesso com aquela geração de atletas que surgia. Sua determinação afetou uma grande quantidade de pessoas e mudou o mundo delas.

Antes da Guerra não há registros de trabalhos com o objetivo de auxiliar na recuperação física de pessoas com deficiência, então tal pioneirismo trouxe, sem dúvidas, mais igualdade nos esportes. Com o término dos conflitos os esforços do médico ficaram ainda mais intensos e, em 28 de julho de 1948, realizou-se o primeiro evento esportivo do mundo exclusivo para pessoas com deficiências físicas na cidade de Stoke Mandeville situada a 56 km de Londres. Esse e outros eventos posteriores foram ganhando cada vez mais notoriedade a ponto de chamar a atenção do Comitê Olímpico Internacional (COI).

Em 1960 foram realizados os primeiros Jogos Paralímpicos da história, com 400 atletas de 23 nacionalidades diferentes e provas exclusivas para cadeirantes. Eles aconteceram na antiga capital do Império Romano, Roma, e esse marco inicial mudou a visão da sociedade em relação às pessoas com deficiência.

Gradativamente e graças às manifestações e o apoio de diversas personalidades mundiais, o termo “deficiente” foi deixando de ser usado com conotação pejorativa e sim usado como nomenclatura para uma condição da pessoa, dentre tantas outras que uma sociedade diversa apresenta, afinal limitações todos as pessoas têm em maior ou menor grau.

O mundo hoje pode ter o prazer de desfrutar de cidadãos que superam, dia após dia, suas dificuldades. Muitas vezes negligenciados pela sociedade, mas cheios de determinação, eles apostam no esporte, treinam e se transformam em atletas. O resultado é a formação de gerações de atletas paralímpicos que marcam o mundo com humildade, resiliência, determinação, sonhos e motivações.

Esses atletas são a prova de que o esporte e a educação são caminhos para conhecer e respeitar um mundo de diversidade. Depois dos Jogos de 2021 e, especialmente, dos resultados espetaculares dos atletas brasileiros, atletas paralímpicos devem seguir sendo apoiados por uma sociedade que, definitivamente, os observa e aplaude com ainda mais respeito.

(*) Hugo Henrique Amorim Batista é licenciado em Física e Matemática, mestre em Educação e professor da Área de Exatas do Centro Universitário Internacional UNINTER 

(*) Luciane Godoi é graduada em Química Industrial, doutora em Engenharia e Ciências dos Materiais e professora da Área de Exatas do Centro Universitário Internacional UNINTER 


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