06/12/2021 às 11h11min - Atualizada em 07/12/2021 às 12h20min
Respeitar a Evolução da Educação é consolidar nosso cuidado com o futuro
Benisio Ferreira da Silva Filho*
SALA DA NOTÍCIA Danieli Crevelaro
Acessar a educação é um privilégio para poucos atualmente no Brasil, e, para maioria, uma conquista após muitos sacrifícios. A realidade mostra que somos dependentes de investimento em instituições particulares para que o ensino fundamental seja suficiente e permita o ingresso no ensino superior, tão almejado, principalmente, pela notoriedade da diferença salarial entre quem tem curso superior e quem não tem. Partindo do raciocínio apresentado acima, nós brasileiros, estudamos para podermos realizar um vestibular ou uma sequência de provas do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) para ingressar com muitos pontos nas melhores faculdades e preferencialmente nos cursos considerados por muitos como os mais rentáveis. Quem é no mínimo bacharel, ganha mais que um não bacharel, e o que se especializa ao longo da vida passa a receber mais. A grande questão agora é: esse caminho está disponível a todos? O quão acessível é a educação no Brasil que permite uma ascendência social por meio da obtenção do conhecimento? Na prática, os que possuem condições financeiras para manter seus filhos em escolas particulares são os mesmos que possuem condições de manter esse crescimento intelectual até a entrada em faculdades e universidades. A realidade de uma pequena parcela da nossa população é essa. Existe na verdade uma pequena quantidade de pessoas que seguirão o que entendemos como algo popular e lógico: estudar, entrar em uma universidade, formar, conseguir um emprego e receber bons salários ao longo da carreira enquanto se especializa. A grande maioria, no entanto, precisa primeiro sobreviver. Conseguir realizar uma atividade remunerada que dê dignidade, alimente sua família (muitas vezes vários membros da família trabalhando para que ao final a junção dos ganhos garanta essa dignidade) e ainda administrar o que sobra para o lazer e em investimentos futuros, dentre eles, o estudo. Muitos que vivem essa realidade buscam por uma oportunidade de iniciar e manter seus estudos com intuito de ascensão econômica, pois aqui no Brasil sabemos que, após sua formatura, outras portas se abrirão com salários maiores. Essa é a nossa realidade. Uma soma de três situações luta contra esse desejo de muitos. A primeira é número de cursos disponíveis em horários de acordo com a disponibilidade do futuro aluno. Muitos precisam trabalhar e colocarão o seu pequeno ganho financeiro acima de tudo. Ele precisa de flexibilização, ele quer estudar em horários atípicos ou aos finais de semana. A pessoa quer estudar, mas precisa de oportunidade e estrutura, não podemos exigir que renuncie a seus pequenos ganhos para tentar sobreviver por alguns meses no modelo tradicional que funciona apenas para os poucos que possuem condições de “apenas” estudar. A segunda situação é a concentração dos cursos nos grandes centros ou próximos a eles, exigindo então, um deslocamento e sacrifícios que facilmente levarão a desistência do futuro estudante. Em um momento tão informatizado e conectado encurtar distâncias é algo natural, desde que as pessoas tenham acesso a dispositivos conectados a internet, uma realidade acessível hoje para a maioria dos brasileiros, segundo dados da ANATEL. A terceira são os custos dos cursos mais desejados, especialmente os cursos da área da saúde. De fato, as aulas práticas laboratoriais e práticas exigem estrutura cara e sofisticada, associado aos demais custos internos, o preço final acaba sendo inviável para aqueles que não têm condições financeiras de ingressar na faculdade e concluir o sonhado curso. O que deve ser ensinado presencialmente de forma prática, deve continuar, porém, toda a parte teórica pode ser transportada para ambiente virtual. Temos condições hoje em dia de usarmos a tecnologia a favor da oportunidade para muitos. Essa tecnologia encurta distâncias, diminui custos e permite que muitos cheguem à universidade. Permite a tão sonhada flexibilidade de horários para realização de cursos tão desejados com liberdade para trabalhar e organizar a vida pessoal, incluindo a carga horária prática necessária e indispensável ao futuro profissional de saúde. Precisamos dar chance e permitir que todos tenham condições de ter acesso ao conhecimento e de forma justa, por mérito, e que os melhores sejam absorvidos pelo mercado de trabalho, tão carente hoje dos futuros bacharéis e tecnólogos. Somos favoráveis as exigências e cobranças para que as instituições ofereçam cursos de qualidade, de acordo com a legislação vigente. Agora não temos o direito de colocar dúvidas e pré-conceitos baseados em modelos não modernos acima da chance de oportunizar o conhecimento a todos e ampliarmos a quantidade de bons profissionais. Em um país tão desigual, dar a população mais chances de estudar é no mínimo pensar no futuro do país. Ignorar a contribuição da tecnologia em contribuir com essa oportunidade é no mínimo, burrice. *Benisio Ferreira da Silva Filho é Biomédico, mestre em Ciências da Saúde, Doutor em Ciências com ênfase em Biotecnologia e também Doutor em Biologia Celular e Molecular. Coordenador de cursos da Escola Superior de Saúde, Biociências, Meio Ambiente e Humanidades, do Centro Universitário Internacional UNINTER.