Modalidade de fidelização de clientes que dá “dinheiro de volta”, o cashback se tornou uma ferramenta com potencial para fazer as empresas crescerem. Ao devolver parte do valor da compra, o sistema ajuda a atrair consumidores e a dar visibilidade para o negócio. No entanto, oferecer esse tipo de retorno deve levar em conta as taxas e os termos do contrato com as empresas provedoras de cashback.
O sistema é o oposto do desconto, ou seja, um produto de R$ 100 com 20% de desconto sai a R$ 80 para o empreendedor, o que no final das contas pesa no caixa da empresa. Já com o cashback, o mesmo “desconto” volta para o lojista em uma próxima compra. Nesse caso, os lojistas pagam uma comissão aos sites de cashback, que dividem o montante com o cliente.
Para Felipe Rodrigues, CEO da startup Meu Dim Dim, plataforma de cashback que atende pequenos negócios no Brasil, o sistema de recompensa traz a sensação de ganho real ao cliente - e isso atrai novos consumidores e os fideliza. Mas, para funcionar para a pequena empresa, ele acredita que o sistema deve ser integrado. “Um processo automatizado, para não gerar um trabalho manual a mais.”
No caso da plataforma Meu Dim Dim, o empreendedor preenche o cadastro e indica a porcentagem de cashback que vai oferecer aos usuários. A alta demanda que a plataforma sofreu em 2020, reflexo do boom no comércio eletrônico durante a pandemia, ajuda Rodrigues a projetar um crescimento de 290% do Meu Dim Dim para este ano.
A marca Seculus é uma das empresas que fazem uso da plataforma, desde novembro do ano passado, como meio para oferecer dinheiro de volta aos consumidores.
Segundo Lilian Berger, head de produto e digital do grupo (também dona da marca de relógios Mondaine), a modalidade representa 5% do faturamento. “Entendemos que o cashback é uma forma saudável para o consumidor. É uma estratégia muito sustentável e sem conflito.”
Os sócios fundadores da Cuponeria Thiago Brandão e Nara Iachan: desde 2020 com cashback. Foto: Claudio Pepper
Berger afirma que, em março deste ano, houve uma retração nas vendas provocada pelo agravamento da covid-19 no Brasil. No entanto, a expectativa é que, em maio, o Dia das Mães retome o faturamento dos meses anteriores, o que deve fazer aumentar o uso da modalidade de devolução de dinheiro, segundo ela.
“A estratégia é fomentar o cashback em datas comemorativas, porque o relógio é um produto muito presenteado, então, funciona bem com o nosso negócio”, afirma a executiva.
No caso da Seculus, o faturamento cresceu em torno de 60% desde a implantação do cashback. Para o ano de 2021, a expectativa é seguir crescendo. Somente o e-commerce do grupo deve alcançar a ordem de R$ 5 milhões. E é esperado que o faturamento da empresa para este ano seja de R$ 300 milhões, um crescimento de até 10%.
Para o especialista em cashback Sérgio Ferrari, fundador da LemoneyWay, empresa que implanta a modalidade, negócios de qualquer porte podem oferecer cashback como meio de benefícios ao cliente. “O cashback é o dinheiro do futuro.”
Thiago Brandão, cofundador da Cuponeria, que conta com 8 milhões de usuários, acredita que a estratégia para fidelizar os clientes pode ser aliada aos cupons de descontos, já que o cliente tem a oportunidade de ganhar benefícios em dobro.
“O cupom é um convite, e o cashback é a certeza de que o cliente vai voltar”, diz. Lançada em 2011 com foco em cupons, a Cuponeria viu mercado no cashback e no ano passado implantou a modalidade, por meio de seu Clube de Vantagens.
Os especialistas ouvidos dão dicas de como implantar cashback no pequeno negócio.
Felipe Rodrigues, da Meu Dim Dim, projeta crescimento de 290% neste ano em sua plataforma. Foto: Divulgação
O crescimento do mercado de cashback no País pode ser exemplificado pela Méliuz, plataforma criada em 2011 e que, no fim do ano passado, abriu capital na Bolsa. No portfólio da startup mineira estão empresas como Americanas, Uber e Centauro.
O Cartão Méliuz, que oferece até 1,8% de cashback, fechou o primeiro trimestre deste ano com 4,5 milhões de solicitações, sendo 19 vezes o número registrado no mesmo período do ano passado.
“Acreditamos que é um sistema que desbloqueia as relações inteligentes de consumo”, pontua Luciano Valle, diretor de Relações Internacionais da empresa. A receita da empresa vem da comissão de vendas que geram para os parceiros a partir das contas abertas. No primeiro trimestre de 2021, a plataforma registrou a abertura de 2,4 milhões de novas contas.
O crescimento significativo fez com que a empresa comprasse a Picodi, uma plataforma de descontos da Polônia, e aumentasse o número de funcionários, que passou de quase 140 para pouco mais de 200 pessoas desde o IPO.
“Quando você pensa em empreender, você tem de se preocupar em construir as bases para o negócio crescer, além de buscar um time bom”, afirma o diretor.