06/01/2022 às 13h58min - Atualizada em 08/01/2022 às 00h00min

Pandemia promove novas formas de comportamentos em sociedade

Economia, relações pessoais e familiares passarão por adaptações

SALA DA NOTÍCIA Cristiane Miranda Malheiros

Os efeitos da pandemia ainda serão sentidos por um longo tempo. Na economia, especificamente, precisaremos de aproximadamente três décadas para entender quais as reais consequências dessa crise sanitária. Pesquisadores da Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede Clima) identificaram que os impactos econômicos das mortes na pandemia, no Brasil, poderão ser observados até 2050. A Rede Clima integra pesquisadores da UFMG e da Universidade de São Paulo (USP).

“O prejuízo afetivo das perdas é inestimável, mas há ainda uma importante consequência financeira, já que muitas vítimas eram trabalhadores ou aposentados responsáveis pelo sustento familiar. Dados da Revista Poder 360 mostram que 84,30% das vítimas da Covid-19 tinham 50 anos ou mais. A previsão é que a morte de pessoas acima de 60 anos retire R$ 3,8 bilhões de circulação na economia brasileira. Alguém que tenha falecido aos 50, por exemplo, teria pelos menos mais 25 anos de idade econômica ativa. Ou seja, é menos gente para produzir, para gerar renda e riqueza”, destaca o professor de economia da Una Cristiano Machado, Mussa Vieira.

De acordo com Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em 2019, o rendimento médio das pessoas acima de 60 anos era de R$ 2.249,90 – equivalente a 1,3% dos rendimentos da população, e em 25,4 milhões de domicílios onde viviam idosos, 15,4 milhões, ou seja, mais de 50%, tinham a renda dependente desse grupo. “Para muitas famílias, os idosos ainda são fonte de renda. Quando morre um idoso nesse contexto, o impacto médio é de uma redução de 48,4% na renda per capita dos remanescentes. Mesmo que a economia volte a crescer, essa renda não volta mais. Isso afeta a oferta de mão de obra mais adiante, que consequentemente afeta a capacidade de produção e geração da renda de um país. São vários os efeitos secundários”, conclui o professor.


Relações pessoais

Se a pandemia trouxe uma avalanche de consequências econômicas, a sociedade também foi abalada em suas relações pessoais, familiares e de trabalho. “A pandemia provoca uma série de mudanças, principalmente no nosso comportamento que é feito pelo contato. Nós somos um povo alegre, já está em nosso DNA, e também todas as outras culturas estão em contato de alguma forma. Mas, o brasileiro, é um povo caloroso e a pandemia impediu isso, então as pessoas buscaram novas relações de contato. Um sorriso por debaixo da máscara, por exemplo. As pessoas começaram a ter um cuidado maior com o outro”, avalia Eduardo Mendes, professor de Psicologia da Una Itabira.

Para o professor, a pandemia fez vir à tona certos receios e medos nas formas de relacionamento, porque o outro era visto como uma ameaça devido a contaminação. “Precisamos entender que as coisas que nos acontecem, elas deixam marcas. Vamos sentir por muito tempo essas mudanças, pois não é diferente com a pandemia. Essa pandemia ainda irá servir de muitos gatilhos para as nossas vivências seja na vida, com a morte, a possibilidade de uma doença, na instabilidade do mundo. Mas, o melhor de tudo é que podem ser superadas”, diz Eduardo.

Passamos tanto tempo em casa com cuidados e afastados do convívio social, que com sinais de melhoras os planos de fazer uma viagem ao exterior, de visitar parentes e amigos começam a encabeçar a lista de desejos. Este momento é um pós-pandemia, mas, segundo o professor da Una Itabira, Eduardo Mendes, ainda vivemos a pandemia.

“As coisas não acontecem de uma vez, vamos, aos poucos, de forma gradual, nos soltando nessa nova maneira de se relacionar com o mundo, desse permitir na medida em que nos sentimos confortáveis. Nós somos seres em movimento, mas não é na brutalidade, nem no pensar desenfreado que a gente vive. O mundo não parou por causa da pandemia e, consequentemente a gente também não”, ressalta.

O turismo pelo mundo também sofreu as consequências da Covid19 e teve que adaptar-se. De acordo com Peter Mangabeira, presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens, em Minas Gerais, após a pior fase da doença, o cenário agora é completamente diferente e a procura por pacotes de viagens está acima das expectativas. “As pessoas estão querendo sair, passear, conhecer novos lugares. Estamos em um período em que a procura está bem maior do que a oferta, um aumento de mais de 25% de crescimento nas vendas, em dezembro", aponta. 

Para Peter Mangabeira, o pós-pandemia trouxe novas formas de comportamento, não só para o viajante, mas para quem trabalha com o turismo. “Hoje o agente de viagem precisa conhecer as regras de cada local, pois cada país tem implantado medidas de restrição,  procedimentos diferentes. O turista já precisa ter conhecimento total do seu local de destino. Estamos vivenciando um novo turismo”, avalia.

Será que poderemos pensar em mudanças permanentes? Para o professor Eduardo Mendes, a vida é um constante fluxo. “Nada na nossa vida é para sempre, no sentido de sempre estar vivenciando da mesma forma tudo. Nós sempre mudamos nosso olhar a partir de nossas experiências”, finaliza.


 


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