20/01/2022 às 10h02min - Atualizada em 20/01/2022 às 11h30min

Abandonar completamente aulas on-line é retrocesso

Por Danilo Yoneshige, cofundador e CEO da Layers Education

SALA DA NOTÍCIA Maria Loures
www.layers.education

Divulgação Layers Education/Gabriel Reis
A pandemia virou de ponta-cabeça uma infinidade de atividades do nosso cotidiano. Isso é fato. Por outro lado, trouxe também algumas mudanças extremamente positivas para o dia a dia das pessoas. A educação remota é uma delas. Embora não fosse uma novidade para muitas instituições de ensino – que já tinham a educação a distância (EAD) bem consolidada –, a necessidade de colocar centenas ou milhares de alunos e professores em um ambiente 100% virtual durante o auge do isolamento social provou que é possível, sim, lecionar e aprender sem as algemas da obrigação de compartilhar o mesmo espaço físico.

O ensino remoto, no entanto, está ameaçado. Talvez pelo conservadorismo do mindset de alguns empresários do setor, saudosismo dos tempos pré-pandemia ou mesmo pelo medo de tornar permanente uma inovação que nasceu temporária, 86% das escolas privadas pretendem extinguir o modelo de aula 100% on-line a partir deste ano, retornando para um modelo completamente presencial ou um híbrido.

O surpreendente resultado constatado pelo nosso time de pesquisa da Layers Education, que ouviu mais de 400 mantenedores e diretores entre novembro e dezembro do ano passado, não desaponta apenas pela revelação de que o setor quer resgatar velhos modelos de aula, mas porque cria um cenário de incerteza para professores, alunos e escolas. O abre e fecha, o volta ou não volta, o fique em casa e o retome à vida normal, entre tantas outras indefinições, bagunçam qualquer planejamento.

Nesse momento de disparada nos casos de contaminação pelas novas variantes da Covid em todo o mundo, manter as aulas remotas ou, no máximo, algo híbrido e com rígidos protocolos de segurança, seria a decisão mais sensata. Os educadores podem – e devem – utilizar ferramentas que incentivem a criatividade dos estudantes, como o uso de vídeos e jogos interativos. Desta forma, eles são instigados a construir um ambiente disruptivo. O processo de aprendizagem não é o mesmo para todos e é saindo do lugar comum que será possível promover a integração efetiva de diversos perfis de alunos.

O avanço tecnológico imposto pela pandemia nos últimos dois anos precisa ser encarado como um aliado no setor de ensino, não como um inimigo a ser abatido na primeira oportunidade que surgir. Além de proporcionar eficiência às escolas, reduzir custos operacionais e expandir a possibilidade de ingresso de novos alunos, o ensino remoto é uma importante ferramenta de acesso à educação em um país de dimensões continentais e infraestrutura precária.

Muitos moradores de cidades distantes dos grandes centros urbanos ou mesmo quem vive em bairros da periferia, durante décadas deixaram de estudar simplesmente por não conseguir chegar à aula a tempo. O ensino remoto é, portanto, também um instrumento de inclusão e de justiça social.

Há uma imensa oportunidade de usar a tecnologia como meio de acelerar a recuperação dos prejuízos de aprendizagem causados durante a pandemia. Não há dúvidas de que hoje os professores estão bem mais preparados para o uso, mais abertos a continuar inovando e rompendo barreiras. A tecnologia pode mudar a educação, embora ainda sejam microscópicas as mudanças na educação básica. A evolução tem partido de iniciativas dos educadores, autênticos heróis na batalha diária por uma educação de qualidade. Não podemos deixar retroceder o desejo dos professores de abrir as suas salas de aulas, inovar e personalizar, e não podemos abrir mão dos benefícios que a tecnologia proporciona.

Em tempos de tantas transformações, a indústria da educação no Brasil precisa acompanhar ou mesmo liderar as mudanças que estão a caminho. Mais do que abandonar a mentalidade analógica e reaprender a ensinar em um ambiente virtual e remoto, o setor de ensino precisa aprender a inovar. Sem medo de errar. 


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